Entrevistado Ivo Tadeu de Araújo Bianchini pecuarista de Lages. Proprietário e criador do gado Devon, Limousin e também outras raças. Foi presidente do Sindicato Rural, foi Presidente da Federação da Agricultura do Estado de Santa Catarina.
P: Ivo, fale um pouco sobre a sua infância, como você começou, com seus pais lá na Coxilha Rica, suas recordações de infância, como era a lida na fazenda. Depois, naturalmente veio estudar. Nos dê um depoimento sobre essa parte infantil sua.
R: Paulo, como amigo da gente, tenho prazer em poder falar alguma coisa. Eu sou nascido em 1939, era criança em 1945, na Segunda Guerra Mundial. Além da recessão que havia no país, dificuldades de comunicação, não existia luz elétrica, carros eram poucos os que haviam. Vivia na Fazenda do Limoeiro com os pais e a gente aprendia as primeiras letras com uma professora que era levada daqui pra lá, quando havia dois, três ou quatro irmãos para aproveitar. Como eu era o mais velho, só fui aprender as primeiras letras com nove, dez anos, isso para poder aproveitar bem a professora.
Na fazenda, queira ou não, tinha que ajudar em todos os serviços. Meu pai tinha invernadas longe, rodeios a que tínhamos que levar bastante sal, para bastante boi (cem, duzentos bois). Então ele mandou fazer um tipo de “pessuelo” de couro cru, feito pelos Athaides, para levar sal. Levava duas sacas de cada lado.
Quem ia levar aquele sal? Era o menor, porque não fazia peso no cavalo. Pois o animal com aquele peso todo e a gente guri em cima, o cavalo andava devagar. Eu ficava bravo uma barbaridade e dizia ao meu pai: “Porque você não leva um empregado?” Dizia ele: “Não, não empregado fica trabalhando, fazendo cerca e outros serviços da fazenda. É você que vai”. Aquilo era um Deus nos acuda! Lembro bem de uma história de um lobo guará (existiam muitos naquela época, lobo guará, veado branco) no meio do banhado.
Eu era “piazote” e ele disse: “Vou lá com o empregado botar os cachorros nesse lobo guará, e você fica aqui, a cavalo! A hora que ele sair do banhado você mete o cavalo em cima”! E eu “piazote”, ali fiquei. Segurei o cavalo o que pude para aquele lobo guará escapar. Ele ficou louco comigo!
P: Do ponto de vista econômico, a diferença de estradas, de entrar lá dentro e fazer negócios, você estando ali com o gado puro, melhorou ou ficou na mesma?
R: A evolução foi muito grande, usei de tudo em função disso, do curso de Veterinária, do estudo, do aprendizado, do saber, de nossos conhecimentos. Nós conseguimos evoluir muito com as tecnologias que se usa na fazenda. Sem isso era impossível porque eu vivo única e exclusivamente da fazenda, principalmente nesse setor de transferência de embrião. Temos trabalhado com toda tecnologia. Sem querer me enaltecer, veio recentemente um pessoal de criadores de Devon dos Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia, Inglaterra, Austrália visitar nossa fazenda. Conversamos sobre essa tecnologia de transferência de embriões e nem eles têm os índices que nós temos aqui. Porque temos trabalhado com muito afinco. Lá eles são mais proprietários de final de semana.